sexta-feira, 29 de maio de 2009

Romenos têm RG ou CPF?

Os romenos têm, para além daquilo que corresponderia ao nosso RG ou CPF, um CNP – código numérico pessoal. Trata-se de um código irrepetível que se atribui a todo indivíduo nascido na Romênia – ou estrangeiro com direito de residência no país – e que o acompanha imutável durante a vida toda, da maternidade ao túmulo.

Um novo CNP para o mesmo indíviduo só pode ser concedido em raríssimos casos que envolvam mudança de sexo ou graves equívocos ocorridos no momento da atribuição do CNP.

O indivíduo que por algum inconcebível motivo não tenha CNP está nulo para a vida prática: não pode se inscrever em escolas, não pode abrir contas bancárias, não pode assinar contratos de trabalho, não pode se casar nem falecer, não pode solicitar passaporte, não pode comprar ou vender imóveis. Essa impossível situação permitiria pouco mais que comprar pão na padaria, ir ao banheiro e andar de bonde.

O CNP, constante em praticamente todos os documentos pessoais do cidadão – certidões, carteiras de identidade e motorista, passaporte etc. – foi criado e imposto por um decreto presidencial, profeticamente brilhante, assinado pelo ditador Nicolae Ceausescu (foto) em 02 de março de 1978, na mais perfeita inspiração orwelliana.

O fatídico CNP é composto por 13 algarismos. Os 9 primeiros ocultam as seguintes informações: sexo, data completa de nascimento e província de residência no momento do nascimento. Os 3 seguintes formam um número de registro que segue uma determinada ordem. O décimo-terceiro algarismo do CNP, misterioso, é conhecido como número de controle ou de auto-validação, resultado (dizem) de um complexo cálculo envolvendo todas as cifras anteriores.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A Romênia é dividida em estados?

Com certeza, a Romênia também é dividida em estados. Não saberia dizer, contudo, qual deles seria o mais presente ou mesmo o mais profundo. Seria fácil e até mesmo leviano indicarmos, na geografia deste país, o estado de desespero ou qualquer outro estado que esteja tão presente ou na moda nos mais diversos países - não por constituírem características próprias deste ou daquele povo ou desta ou daquela região, mas por pertencerem em geral ao mapa da alma humana.

Ao cartografar a Romênia, porém - e refiro-me sobretudo à Romênia profunda, ao seu mundo rural, dimensão mais autêntica e intensa desta nação - é freqüente nos depararmos com um determinado estado de atraso material que, aos olhos do visitante desavisado, pode parecer perfeitamente desprovido de consistência e tão somente digno de piedade. Mas esse estado oculta, misteriosamente compensando-se, um outro estado, que não sei nomear. Trata-se quase de um outro mundo, acostumados que estamos a chamar equivocadamente de normalidade os costumes ocidentais que nos inculcam. E nesse outro mundo, os valores humanos da amizade abundam, traduzidos no prazer do convívio, da boa cozinha, da boa bebida, de um "dolce far niente" construtivo e poético justamente por não visar qualquer lucro material.

Nas grandes cidades, por outro lado, especialmente em Bucareste, grassa um estado que nós, moradores urbanos, já conhecemos. Um estado de correria e de certa frieza que, talvez, aqui seja acentuado pela possivelmente explicável avidez de seus moradores por tudo o que seja consumo e por tudo o que lhes permita impôr-se diante dos vizinhos com a arrogância dos veículos 4x4 e das casas de gosto duvidosíssimo. Um lamentável estado em que TER conquistou, sufocou e até mesmo substituiu, de maneira perversa e insidiosa, SER.